sexta-feira, 23 de julho de 2010
TUDO BOLE
O grão do pólen da magnólia
Bole com a minha vida
E bole a tampa da ferida
O rumo da estradeira
Bole o fio da aranha
Com a rapidez dum coiote
Bole o rio e a sua beira...
Tudo bole na domingueira
A cadência da mulata
Bole o susto da estrangeira
Bole a testa da natureza
Quando se aquece a geleira
Porque o homem bole em tudo
Na terra, na mata e pedreira
Quando bole é sem sapiência
Não vê a correspondência
Pois não cai um só cabelo
Que não bole um entrevêro
Entre o excesso e um povo inteiro...
Nina Araújo
COMPOSIÇÃO
Para compor um poema é preciso tremer as mãos.
E ter o corpo suspenso por chispas de comichão.
E ir vasculhar a janela, para encontrar o fato ,
Algo menos correlato como a gracinha do cão.
Para compor um poema é mister um vôo alto,
Um combinado de saltos às vezes sem direção
O temor dos anseios sem ter desvelado os meios
Infiltrado na questão. E talvez tenha que gritar forte...
(Contar duas rezas com sorte, acatar a invocação.)
Para compor um poema é possível estar à solta.
Catapultar coisa boba achando que tem razão.
E ir buscar o feito inédito, uma relva de unicórnios
Pegasus voando em círculos com porte de alazão
Para compor um poema é preciso ter a fresta
Sentir os ares de fábulas das mil noites de festa.
E com uma torpe ilusão escrever a sua pinta
Coberta da louca tinta que saiu do coração...
Nina Araújo
quinta-feira, 22 de julho de 2010
RAMA RASTEIRA
como o espelho
dos versos de Sylvia Plath,
a fera fome e,
os versos de Bandeira,
a voz engole a vez
da prosa inteira.
o contorno da rama,
suspende a hera
e dessa rama fez-se
a doida flor rameira
lembro-me bem
do vigor da danada,
a súcia de olhos acres,
a esculpir o chão,
só para ver se vinga o talo,
numa laje de caramanchão.
Nina Araújo.
VALEI-ME
Valei-me a pena preta da graúna
Valei-me de agourar a acauã*
Valei-me o toco forte baraúna
Valei-me a luz do cisco de Tupã
Valei-me o pé que finca a estradeira
Valei-me a ginga duma capoeira
Valei-me o ar do pau duma ribeira
Valei-me a juriti mirando a rã
Valei-me a dor pisando na tramela
Valei-me o tum! do xote pé da serra
Valei-me o ar sereno da cunhã
Valei-me um matagal de umburana
Valei-me o naco doce duma cana
Valei-me a lua ali brilhando a rama
Valei-me a cruz da vida quando chama e chama...
Valei-me o grito da atmosfera
Valei-me onde o homem vira fera
Valei-me TODA A NATUREZA SÃ !!
Nina Araújo.
quarta-feira, 21 de julho de 2010
OPOSTOS À POSTOS
Quando ele era Pascal,
Ela era Carmem Miranda
Ele fala em Schopenhauer
Ela, em Elvis e sua banda
Ele releu Zarastruta
Ela diz que ali tem truta
Ele acha Nietzsche legal
Ela diz que ele é biruta
O que dizer de Confúcio ?
Se ela diz : -melhor é o Lúcio
Ele então quis ponderar
Perguntou de Kierkgaard
Ela foi rumo à janela
Fitou o verde do mar
E sapecou :- sou mais o Edgar!
Ele fez uma gracinha
Aquele que é Allan Poe?
Ela disse :- é Scandurra, benhê!
Guitarra que grita às turra
No bamba do grupo Ira
Que tem por fã a Zulmira
Ele disse: ah,isso não...
Socorro, chamem Platão!
Deem-me frase de Heráclito
Porque ela é o próprio cão !
Diz que Freud é um lunático,
Que só cura "telepático"
Preferia o performático
Fred, vulgo Queen-emoção!
Socorro, chamem a perícia!
Que eu matei, mas estou limpo!
Vou correndo até o Olimpo
Deuses!!! Eu luto com afinco
Diploma , juntei uns cinco
E ela diz que não sou prático
Enquanto vive enrolando
Supletivo com o “Marlon Brando”
Seu instrutor tão simpático...
Nina Araújo.
QUEM PARIU A EMOÇÃO?
Que portal adentra,
Que sorte domina,
Que clima ilumina,
A tez de um poeta?
Quem é que conduz,
Quem enrosca a luz,
Qual estricnina,
Rastreia esta festa?
Quem flameja a ponta
Quem falseia os mundos,
Quem checa o profundo e,
Atiça o balão?
Quem encaixa a rima,
Quem ata a forquilha,
E quem pega a trilha,
No pau de rojão?
Por certo é o poeta,
Moleque e traquinas,
Com folhas e prismas,
E canetas às mãos!
Ou então, é o pateta,
O bobo da corte,
Que faz pantomima
E mora na tina,
E cutuca a lima
E pari a emoção...
Nina Araújo
terça-feira, 20 de julho de 2010
PASSARINHA
Ouça bem sabiá!
Aqui onde ponho o verso,
Sempre existe um lugar,
Não imite o beija-flor,
João-de-barro ou carcará,
Venha como as andorinhas,
Pois sou dessas passarinhas,
Que se agrupam ao voar,
Vivo nomeando o vento
Chamo graveto de tempo,
Faço uirapuru cantar,
Sou comadre duma águia,
De olho no pintassilgo
Todo incauto a passear,
Tropico com a cegonha,
E suspiro quando a cotovia,
Chama a atenção do luar
Hoje é a festa dos passarinhos
Então eu fico a velar os ninhos
Para a vigia ir corujar!
Nina Araújo
quarta-feira, 14 de julho de 2010
EU COMPRO PALAVRAS
Eu compro um quilo delas,
E duzentos gramas de frases,
Mas quero-as bem eficazes,
Com metáforas mais belas.
E se alguma sucumbir,
Vou pedir que virem troças,
Dessas BEM libidinosas,
Com dedos de tecer prosas,
Para se morrer de rir.
Palavras com jeito de sala,
De morador nordestino,
A rede embalando o destino,
Enquanto a tristeza rala,
Palavras com notas de banda,
Vai que a minha fé desanda...
E eu fico sem ter aonde ir.
Também compro palavras aqui!
Na verdade preciso de trinta,
Umas que tenham bondade,
Outras que cheirem a trufas,
Aquelas que emanam saudade
Eu engulo e como as frutas
Quero as distintas, as capazes...
As inomináveis eu prezo,
As contumazes, não quero.
E também desprezo as brutas,
Ademais, só vou comprar as que casem!
E as que vençam as minhas lutas!
Nina Araújo
terça-feira, 13 de julho de 2010
FORMA
O ROSTO DO GIRAMUNDO
Ele tinha o rosto triste
E uma vista avermelhada
Amanheceu pela vida
Filho único e mesada
Aos vinte teve dois filhos
Foi hippie vendeu cocada
Estudou Filosofia
E Religião Comparada
Caiu de febre terçã
Entre Diógenes e Lutero
Por tudo que estudou
Deus não lhe era sincero
Fez criadouro de rã
Idolatrou Emil Cioran
Hegel, estudou com esmero
Quando a mulher precisou
Desistiu de lecionar
Virou o dono da casa
Cuidou de tudo no lar
Ela foi ganhar o mundo
Giramundo, giramundo
A bela conseguiu o canudo
Virou diplomata exemplar
Ele construía uns versos
Enquanto lambia as crias
Em todo o tempo disperso
Lançou livros de poesias
A mulher bisou o recado
Arrumou outro amado
E disse que não ia voltar
Mandou buscar os meninos
Queria um novo destino
Com resort e caviar,
Ele pirou! Bateu o pino!
Mas resolveu acatar ...
Por fim, virou dançarino
Fez um salão perto ao bar
Casou com a irmã do primo
Deixou de ser peregrino
Quis ter um novo lar
Aprendeu a exportar carpa
Com o tio em Lumiar.
Nina Araújo
sexta-feira, 9 de julho de 2010
quarta-feira, 7 de julho de 2010
terça-feira, 6 de julho de 2010
FALA BEIJA-FLOR DO BICO DOCE!
Fala beija-flor do bico doce!
Fala bem aquele que escutou
A fala que é correta não tem falha
Quem fala o que não deve é falador
Se sabe sem escola é autodidata
Quem fala de improviso já provou
O falastrão só fala o que engasga
O santo quando fala é protetor
Fala beija-flor do bico doce!
Fala o neto o que o avô citou
A fala do poeta é rima e gala
Um samba enredo fala com primor
Fala de verdade a alma rara
Fala de calúnia o usurpador
Fofoca fala aquele que atrapalha
Quem perde a fala se emocionou
Fala beija-flor do bico doce!
É farta a voz de quem é bom cantor
A fala fina enfeita o som da gralha
O tíbio quando fala é um horror!
O que fala sem crivo é permissivo
Cuíca quando fala extrai a dor
Mas quando o sábio chama a voz é calma
É bálsamo de vida é mal que cala
Porque tudo diz é um esplendor !
Nina Araújo.
sábado, 3 de julho de 2010
quinta-feira, 1 de julho de 2010
NAÇÕES
(para Graça Graúna)
Araras-de-aripunã,
aruás e ajurus,
Aparais e aicanãs,
São índios são nações
Irmãs...
Guajás, barás, bororos,
Carajás,canindés, caiapós,
Crenaques,vanis e xocós,
Cultura de línguas distintas
São índios são nações
Irmãs...
Puris,bacairis,guaranis,
Jumas,calancós,jabutis,
Cambebas,caxixós,macuxis,
São índios são nações
Irmãs ...
Falas de todas as caras,
Matis , aruaque,tucano,
Jê, ofaiê, tupi-guarani...
São línguas que hoje ouvi
Belas falas de nações
Irmãs...
Ó Deus da vida querida
Salve os dias dos paiacus,
Dos jurunas,náuas,nambiquaras,
Suruis, tabajaras,xucurus,
Não permita que eles morram
Que sofram quaisquer injustiças
Põe do Alto a tua vista,
Que levita a olho nu,
Salve os índios desta terra
Salve todos os potiguaras,
E daí-nos Paz em Ñanderu !!
Nina Araújo
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