sábado, 30 de abril de 2011

IRRESISTÍVEL


















Ouso tatear a tua carne.
Verbete ordinário !
Nos rastros da minha boca.

Toda vez digo o contrário,
mas, na hora do ensaio,
até a razão fica môuca.

Difícil é ver este corpo,
entre os vincos da tua calça,
e essa vontade louca.


NINA ARAÚJO

sexta-feira, 29 de abril de 2011

COME COME





















Repare no infiéis,
que cospem na alegria,

e engessam o pôr do sol,
na estupidez do dia,

E na busca da porfia,
perdem os louros adiante,

no consumismo feroz,
da emoção delirante.

Repare nos seus semblantes,
que babam aos tropicões,

e as solidões multicores,
na frota das compulsões,

afagando o ego inflado,
nos carrosséis marcados,
pelos frutos das ilusões !


NINA ARAÚJO

PAIXÃO




















Colarei o teu poema,
como visgo de jaca,
húmus e natureza,
senha e teorema,
aura e cor turquesa,
cama e pele desnuda,

Ah,será um Deus nos acuda !

Este flerte de estrelas,
nossas águas de corredeira,
e a minha vontade impura,
na mágica voz do Logos.
Tu ! Minha criatura....


NINA ARAÚJO



NA PROSA





















Não te levo a sério,
com as mangas pomposas.

E gosto de ver-te,
bastarda,
entre as rosas.

Pois se nenhum verniz,
veste de aristrocacias,
essa prosa.

É no descompromisso,
que a minha rima goza...


NINA ARAÚJO.




terça-feira, 26 de abril de 2011

XODÓ

















O maior rebuliço da terra,
é o olho prenhe dela,
quando o breu traz a saudade.

Céu e mar fazem esgrima,
a alegria põe uma grade,
por pura infelicidade.

Lá do quarto ela chora,
e molha o dia de ir embora,
pensando por onde,
ele também chora...

Sem demora, faz a mala,
reúne a roupa e treina a fala,
decide ir atrás do vento,
(talvez sua voz implore !)
para o seu xodó voltar!



NINA ARAÚJO

MASSAGISTA

















Seus pés descalços,
em minhas costas,
não é tão somente amor,
é o banimento da traça,
que brota à deriva.

Pois, seu andar move-me...
Massagem ayurvédica !
Flutua os mimos em minha alma,
com flocos de fibra.



NINA ARAÚJO.




CABANA















No céu da tua língua,
ouço o trino,
do beijo mavioso.

Ah, que gostoso é,
despentear os teus cabelos!
Enrijecer estes pêlos,
como quem expõe ao mundo,
as vigas da paixão.

Por mim, nenhum dia despertaria,
apenas o tempo largado,
no interior duma cabana.

E as estrelas em festa,
o ar por entre as frestas,
e os corpos molhados,
de suor e sanha.


NINA ARAÚJO




segunda-feira, 25 de abril de 2011

SEDUZIR


















O que diria a Grande Ursa,
se eu armasse em tua blusa,
uma grande combustão,
seduzisse pele a pele,
afogueando teus olhos,
até sitiar a razão.

E na intepridez dos anseios,
como o artista da vida,
dando espetáculo na rua,
pelos corpos fumegantes,
reféns da paixão atrevida,
entre a chuva e a lua.



NINA ARAÚJO.

domingo, 24 de abril de 2011

CATAPULTA





















Bendigo a catapulta,
que sobrevoa o abismo,
e o braço amigo da orfandade,
o espaço farto do abrigo,
o cheiro forte da amizade.

O gesto invicto de maldade,
a posse de não ter posse alguma,
o dono e o cão unidos na cidade,
e a fome que encontrou a grande sorte.

Bendigo a catapulta,
que expande os ossos,
e o espanto que dá luz a liberdade,
a queda prematura do egoísmo,
e o verso encavernado nesse abismo,
da gente que revive em toda idade...


NINA ARAÚJO

sábado, 23 de abril de 2011

ACENDA




















O canto onde a cigarra jaz diluída,
é tão viçoso quanto a própria vida,
portanto; breves são as lágrimas,
que os poetas extraem da lida.

Agora sim,
vibração das ânsias equivocadas!
Descanse os pés, com as formigas...

Quiçá o canto de uma cigarra,
irrompa o breu das lamparinas,
e acenda a graça, acenda a massa,
acenda os saltos das bailarinas.


NINA ARAÚJO




sexta-feira, 22 de abril de 2011

RECEIO






















É furioso o olhar de Dantes,
e velho como o quartel de Abranches,
pensando na segunda-feira.

É como lembrar da artrose,
e declamar uma Ilíada,
com a boca cheia de nozes.

É uma pedra sem o musgo,
uma pálpebra sem sobrancelha,
o peito sem o coração.

E tenho sempre este receio,
quando vivo os dias cinzas,
longe da minha paixão ..


NINA ARAÚJO



NÓS















Debaixo de minha voz,
há um mar piscoso,
onde a isca,
põe em rebuliço,
o coração teimoso.

Pelo mundo eu e ela,
no saculejo das águas plurais,
afiliamos-nos às tempestades,
por viagens sobrenaturais.

Lá, de onde ondas ensaiadas,
enlouquecem o ar de pirraça,
a vida implica, mas solta as bóias,
para que vejam o quanto somos comparsas.




NINA ARAÚJO

DIAS QUENTES















Ah, este calor que me endoida !

Molho a planta tonta,
e a salada murcha
precocemente.

Se não fosse
o crachá de carioca,
eu suportaria
o chopp quente.

Ademais,
volta-me a vontade de flanar
e cortar o côco rente.

Que o juízo agoniza, eu sei...
Para mirar as ondas,
no balanço dos belos
cheios de marra.

Mas, quer saber?
Nada deixa o dia mais bonito,
que o rompante deste sol,
ardente na cara...



NINA ARAÚJO

quarta-feira, 20 de abril de 2011

AQUELA






















Se lhe faltasse esta vida,
ainda assim os ombros,
não quedariam encolhidos.

Bicando as fotos velhas,
sobrariam cantos dos anos vividos.

As entranhas dos olhos dela,
a entrega correspondida,
o indefectível short amarelo,
e o nome da bela na ponta da língua.


NINA ARAÚJO

AVIDEZ




















Ela cobriu de veludo,
a ocasião daquele encontro.

E, não era para tanto,
se ele apenas vinha...

Mas juntava os sonhos,
em imagens tridimensionais:

uma tarde de outono,
os dois contando patos,

o beijo,
o encanto,
a fragância fina,

e os loucos amantes,
entre os espasmos do ato.


NINA ARAÚJO

terça-feira, 19 de abril de 2011

MANIPULADORA
















Tenho cortes,
de morder a língua,
quando a rima,
atravanca,
a minha rotina.

Não bastasse,
ter que fazer
a sutura.

Ela reclama,
pede a velha pinga,
e ainda me chama de burra....

Ah, manipuladora sagaz !
Não sei a quantas suas filhas berram...
Mas é guerra? É guerra?

Então, rime aí :
Uma perna de pau,
um leão faminto,
o poeta, a pulga e um cão,
no recinto....



NINA ARAÚJO

segunda-feira, 18 de abril de 2011

NA ENGORDA





















Quem sabe de mim,
é a rima gorda,
forjada,
nos bebes da prosa,
igual ao pedaço farto,
do bombocado de versos.

Ah, como são débeis,
os esforços por
conter-me...

Até aqui,
nenhum garfo,
triscou o "era uma vez"...

Quem sabe de mim,
é a seiva doida,
a babar-se de quadras,
e a rosca doce da frase,
lambendo a boca,
nos poemas contumazes.


NINA ARAÚJO

domingo, 17 de abril de 2011

É MEU !!!




















Onde vai dar
essa tonta insanidade,
de dizer-te meu,
eu nem ouso alardear.

Pois, se ninguém é de ninguém,
na solidão de morrer a sós...

Ai de mim, que antevejo
o colóquio com o Criador -

O que é meu é meu !
Deixai assim por cem anos,
Ó Senhor !...


NINA ARAÚJO

sábado, 16 de abril de 2011

COAST TO COAST





















O beijo roubado
nas esquinas
das tuas blusas,
é ira de rinha,
cava esguelhada,
ópera bufa...


(E jamais detém,
o rasgo dos sóis.)

Ah, tu que me habitas o colo...
Silva em saudade densa,
orquídea vingada,
boca molhada,
coast to coast e,
imensa, imensa !!!...


NINA ARAÚJO

segunda-feira, 4 de abril de 2011

SEU MINÉ DO ENTROCADO


















(poesia matuta)


seu miné lá da Aroeira
caducava só di pantim
o cabra lendu seus zóios
pensava nu bichu ruim
achava a prosa verdadêra
(apois vancê espiá...)
o hômi latia de cuatro
fazia fogo cum água
xingava a mulé do ferreiro
proseava tudo ao contráriu
inté mangava das véia
coçando o fiofó de escárniu
modi mostrá valentia
pegava num tôco adiante
fazia dali u'a garruncha
e fingia sê um volante
dessis cum vista di pulga
qui atirava pra todu lado
onde tivesse um cristão errante
danado atrás dum jagunço
qui era só no imagináriu
dizia mirá no batente
um Lampião acochado
vestido só de tridente
e cum capeta dus lado
Avi Maria! Avi Maria!
modi fabricá o fundurço!
seu miné relava neli
Lazarentu! Zarôio! Dentuçu!
e fazia um rito de assômbro
qui era modi pesá o discurso
seu miné dava leseira
que era só pra ri da mófa
du enxame de genti da roça
sorrindu sem serventia
enquanto ele só na galhofa
tinha quem na confiança
das suas palavras tortas
grudava us zóios vidrado
nem pensava qui era troça
e ele nu olhar de abestado
assoava fundo e dizia;
discurpa! tá tudo erradu!
vancês foram inganado!
sô o Miné lá do Entrocado!
mi adiscurpa e muito obrigadu!!

NINA ARAÚJO