Metade de minha alma
é vegetação absurda
onde os teus olhos
colherão minhas mudas
Metade de minha alma
é cataclismo
onde as tuas mãos
farão abalos sísmicos
E decerto sei o que o amor dirá :
vejam que ali mora um par
que alimenta a fome
no manto da vida
Nina Araújo.
nosso amor era um rio
onde o curso foi desviado
deixaram um braço traquino
de riacho desamparado
com a vazão reduzida
e a força toda espalhada
enfraqueceu no desvio
virou fio de córrego morto
desde então fez outro rumo
tanto aprendeu com as pedras
que agora seu nome é porto.
Nina Araújo
Viva
a idade
da pedra
pirógrafo
riolito!
Brasa
palavra
solo
imagem
mito!
Narciso
sibila
o frágil
algoz
da fama.
E a tua foz
verte
a trama
enquanto
seduz
o palhaço
no circo...
Nina Araújo
O ânimo dela parecia o de Callas,
e a rua toda assentia,
o aspecto era de Diva,
cantando as auroras da via.
Mas o que se vê agora,
nenhum caos ousaria.
Pálida, ela passa anônima,
com o indefectível: - bom dia!
Há dois meses ele foi embora,
deixando a pasta na guarida.
Desde então, os carros zoam,
os moleques customizam,
o velho que vira novo.
O odor dele ruiu na sala,
com a tampa da loção partida,
mas ela espera por outra cara,
com a voz de uma nova vida ..
NINA ARAÚJO.
Amanhece,
tônus de tez fresca,
rosto sem esperas,
ou verdugos.
E ninguém ouve os urros,
do ventre que vibra,
até o avesso,
para acordar um olhar !
Amanhece,
entre as frisas dos poros.
e em que pese a pausa,
de palma e poema,
na voz delirante,
do inquilino a bisbilhotar...
A vida valsa com o verso arfante,
e invade um coração para morar !
NINA ARAÚJO
Quando o vento se prender na corda,
a moda não se renovar,
o homem rasgar dinheiro,
o corrupto se assustar...
Quando o tempo estiver sem domínio,
e a mão de Deus se fechar,
o ouro deixar de ser nobre,
o mote se desmontar...
É que reza de menino não importa,
e um cão não sabe rezar...
NINA ARAÚJO
Que mal há,
em mirar-te,
assim de soslaio,
translúcido poema?
Eu que , por desdém,
nem te quis comprar...
Possibilito então,
um adendo, o mote sutil ,
e depois...
Não seja ateu
o meu olhar!
NINA ARAÚJO
Ô menino, o descampado
onde pousa a borboleta,
foi frutuoso e encorpado,
enfeitava esse planeta.
Hoje sem o viço do rio,
que rodeava seus cantos,
parece um desvario,
sem capim...sem encanto !
Ai, do velho balanço,
envolto de borboletas,
e pintores riscando as barquetas,
que emolduravam os quadros.
Por aqui jazem as flores,
esgarçadas pelo lixo,
e os pássaros sofrem de longe,
na estocada do guincho.
NINA ARAÚJO
Há um instante,
eu lhe disse,
que bastaria
triscar o sobrolho,
e emudecer a alma,
inchada de sal.
Que mezzo soprano,
não cantaria,
nem mímico ou palhaço,
traduziria igual,
Esse átimo de excelência,
que troca a roupa do sol.
NINA ARAÚJO
Senti tua rubra passada ali,
All Start contemplando os esquilos.
que a tarde galgou inocente.
A sombra expandida dos teus cabelos,
atiçou a minha lente.
Senti a penumbra das copas,
lembrei dos dedos talhando emoções..
O canivete suiço, e dois corações,
que sequer se ligam mais.
e então..
Senti a minha paz
e o meu olho virou árvore
que devora vulto.
NINA ARAÚJO
Pinga a mina do olho,
mas a dama diz,
que é birra de cebola...
NINA ARAÚJO